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quarta-feira, 23 de abril de 2008

O céu que me acompanha.

O vento batendo no rosto, o suor escorrendo na pele, uma brisa suave - coisas da corrida noturna. Como em quase todas as noites que a faço, sinto-me completamente revigorado, e também embriagado com a visão de milhares de estrelas contrastando com a negritude perfurante deste meu céu, mesmo sendo raro um céu assim às noite de Curitiba. Consigo identificar as principais constelações: a de Órion, por exemplo, o Guerreiro de Órion, que fora colocado no céu por Diana, entre lágrima, após ter acertado uma lança em sua cabeça, na tocaia armada por seu irmão, o Apolo - segundo a mitologia grega. Órion, anunciando o início de verões, de invernos, de plantações, aos meus olhos, está mais para uma borboleta do que para um guerreiro: as Três Marias: Alnitak, Alnilam e Mintaka, no centro, e cada uma das suas quatro companheiras em um dos quadrantes das asas da “minha borboleta”: Rigel, muito brilhante; Betelgeuse, a vermelhinha; Belatrix; Saiph. Prefiro o Órion como o novo nome de ônibus espacial. E ainda correndo, o que vejo é uma borboleta, estampada no meu céu!

E lá mais ao sul do céu, pouco abaixo do Cruzeiro, as duas: Alfa e Beta do Centauro: lembra do seriado de televisão chamado “Perdidos no Espaço”? pois é, antes de se “perderem” eles planejavam ir para lá, para a Alfa Centauro, pois afinal de contas ela é a estrela mais próxima: 4 aninhos-luz, é praticamente ali na esquina, como diria Steven Hawkings, o mago vivo. O resto deste meu céu lembra um “caminho de leite”, uma faixa muito extensa de estrelas cruzando a vasta escuridão de belezas infinitas.

Lembro-me a primeira vez que vi um céu completamente estrelado. Foi n´alguma noite, na praia do Quintão, no litoral do Rio Grande do Sul. Eu era um garoto ainda, 6 ou 7 anos de idade. Nessa época ainda não existia água encanada nem luz elétrica. A praia ficava completamente às escuras à noite. Então eu subia na caixa dágua do banheiro que ficava do lado de fora da casa e fitava, maravilhado, aquele céu pontilhado destas coisinhas lindas. Não conhecia nada de nadinha “lá em cima”, pois não é que nem hoje, onde ligo o computador e tiro as dúvidas sobre o céu sob minha cabeça instantaneamente: obrigado Estellarium. Essa minha paixão pelo céu já é antiga, mais antiga até que Quéops. Eu sempre quis muito saber o que existe lá fora.

Lembro também uma outra vez, que vi um céu completamente estrelado, mas isso eu nem quero falar muito: foi depois de “burro velho”, já sabia mapear bem o céu, com suas constelações e principais planetas, já conhecia as leis da física, mas desconhecia um pouco as leis da montanha, pois quando o grupo de resgate chegou para nos resgatar, lá pelas 3 horas da madruga, e no caminho de volta... meu Deus! quando olhei para cima, não reconhecia nada: completamente estrelado estava o céu, completamente afastado das luzes da cidade, e então me dei conta que estava perdido pela segunda vez naquela trilha, naquela noite. Onde estavam as estrelas que eu conhecia? Eram milhões.

Pelo céu acabei conhecendo o mar também, pois um é contínuo ao outro, pelo menos lá em Quintão era, ah... Quintão....e lá me aventurei no que hoje eu chamaria de amor: quanta safadeza eu já fizera naquelas praias, sob aquele luar do meu céu, com uma amiguinha, mas isso é outra história! Como era o nome da moça? Regina, Regiva, Regia, não lembro mais, mas lembro das emoções que sentia. Depois delas vieram outras, morenas de peitos fartos a me deliciar, outras de peitos tocos e pensamentos toscos: me levavam a viajar por um céu de estrelas, faziam-me gemer sem sentir dor, como diria o “Zé”. Aliás, vale um conselho para nossa vida: não se apaixone nunca por uma mulher inteligente para não perder sua razão, pois como diz a coleta Ângela da comunidade do Nietzsche: "Parece-me que determinados conhecimentos não podem ser alcançados quando estamos sob o jugo da razão", ou faça o contrario: vá com tudo meu amigo e seja louco: “louco e santo”.

Também sempre gostei dos temporais que ocorriam no mar e minha mãe sempre me chamava para dentro, mas eu corria para as dunas de areia, contíguas à praia, somente para olhar aquelas nuvens escuras se formando mar adentro, contrastando com aquele céu. A natureza nos fascina, ela nos chama para si. Talvez, por isso, aos quarenta e poucos anos eu ainda precise ficar a sós com ela, para recuperar a energia perdida na cidade.

Conheci tantas coisas nessa vida, vi tantos lugares, viajei muito sem gastar tanto, meus pensamentos sempre me levaram para “onde nenhum homem jamais esteve”, mergulhei fundo nos livros, nas estórias de cinema, na mente de meus amigos, da minha família. Sempre procurei tirar proveito dos pequenos detalhes das fotografias, das músicas, das frases, entre um ou outro cálice do sangue de Jesus.

Lembro também quando parti de minha cidade natal, para viver a vida. Minha família ficou para trás, algumas lágrimas também lá deixei. Voltei alguns anos mais, com uma outra família, e viramos uma grande família. Aprendi a criar filhos, a sofrer perdas na vida, aprendi a perder, mas preferi sempre ganhar – e ganhei algumas coisas. Aprendi a não desistir. E não desisti: acabei encontrando todos os meus sonhos de infância em minha vida adulta: a família, o amor, a vida, e o céu sob minha cabeça.

Por amor aos céus, quis aprender a voar e consegui: aos 18, eu sobrevoei Foz do Iguaçu, aos 30, sobrevoei Rio de Janeiro, aos 35, Recife, aos 40, São Paulo, Brasília, e aterrisei em Curitiba, sempre sobrevoei a vida, sempre estive mais perto dos astros, sempre quis alcançar alguma estrela. E como quem voa também cai... eu caí: mas sem me machucar, pois na beleza do vôo, e na prática das coisas belas, você acaba caindo com maestria, e aprendi isso com Fernão C. Gaivota. Caia, meu amigo, caia que uma rede aparecerá para você. Caia sem medo da vida, pois a vida é bela, mas não deixe de voar.

Voe para perto, voe para longe, caia, levante, aprenda, iluda-se, ame, viaje pela vida, sempre haverá um céu sob sua cabeça. Mas nunca deixei de viajar, uma mala na mão, uma idéia na cabeça, e o desafio no coração.

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