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terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Discurso do Método.

http://www.gazetadopovo.com.br/vidaecidadania/conteudo.phtml?tl=1&id=1225033&tit=Genericos-Devemos-usa-los-ou-ignora-los

http://www.cartacapital.com.br/saude/o-risco-das-agulhas-nas-maos-erradas/#todos-comentarios

http://saudealternativa.org/2010/08/27/fitoterapia-x-drauzio-varella/

http://g1.globo.com/ciencia-e-saude/noticia/2011/11/anvisa-proibe-bebidas-e-alimentos-base-de-aloe-vera.html

http://hypescience.com/18064-filtro-solar-pode-aumentar-o-risco-de-cancer/

http://amigosdacura.ning.com/profiles/blogs/o-perigo-dos-bloqueadores

http://caminhosdaenergia.blogspot.com/2011/12/medicina-e-ciencia-uma-uniao-que-da-ate.html


Certamente se eu vasculhasse com cuidado toda a literatura e toda a mídia informativa sobre notícias que procuram orientar a população sobre o que está certo ou errado sobre a o uso de produtos e alimentos para nossa saúde, eu encontraria muito mais fontes do que as poucas e ilustrativas, que expus acima.
Mesmo vindo de fontes confiáveis, nem sempre essas notícias nos trazem toda a verdade. Cito como principal exemplo a notícia sobre fitoterápicos do Dr. Drauzio Varella (Fantástico, 2010), que em linguagem mais usual, disse que o "chazinho da vovó pode fazer mal à saúde", mas que aos olhos de uma grande parcela de profissionais de saúde, pode encobrir uma terrível verdade: a indústria farmacêutica vê com espanto o avanço de produtos naturais, que na maioria das vezes pode ser usado sem qualquer indicação médica ou participação desta mesma indústria - e que combatem com eficiência uma grande quantidade de males, serem usados pela população, diminuindo desta forma os lucros milionários destas empresas; ou a noticia divulgada pela revista online Carta Capital, que em entrevista a um acupunturista-médico, omitiu a opinião de uma infinidade de profissionais da saúde, que não são médicos e que são realmente quem exerce a acupuntura no Brasil, impondo à população a ideia de que acupuntura é perigosa.
Também, a proibição pela ANVISA de produtos que não têm comprovação científica de que não fazem mal ao paciente, como é o caso recente do ALOE VERA, que ao meu ver é um grande erro, pois primeiro, um produto não precisa ser retirado do mercado porque não tem comprovação científica de seu uso já que esta é apenas uma das maneiras de você obter informações sobre alguma coisa, o método empírico de observação também seria um método apropriado de estudo, quando bem elaborado, e segundo, se o critério de retirar produtos do mercado fosse realmente um estudo científico, então muitos remédios deveriam ser "obrigatoriamente" retirados de circulação, pois bastaria ver na bula, em "efeitos colaterais" a quantidade enorme de situações onde estudos comprovam que eles causam danos a saúde.

A impressão que fica é que sempre que alguém emite uma opinião sobre algum assunto esta mesma opinião terá duas versões, e as duas serão igualmente válidas dependendo dos interesses que estas duas opiniões representem, e não teremos como saber a verdade pela simples razão de não conhecermos os fatos na sua totalidade.


Aproveitei a folga do carnaval para por minha leitura em dia, pois há tempos que eu estava querendo ler Descartes. Cito abaixo a sinopse do livro: Discurso do Método, de René Descartes:

"Cogito ergo sum. "Penso, logo existo." Tal proposição resume o espírito de René Descartes (1596-1650), sábio francês cujo Discurso do método inaugurou a filosofia moderna. Em 1637, em uma época em que a força da razão tal qual a conhecemos era muito mais do que incipiente, e em que textos filosóficos eram escritos em latim, voltados apenas para os doutores, Descartes publicou Discurso do método, redigido em língua vulgar, isto é, o francês. Ele defendia o "uso público" da razão e escreveu o ensaio pensando em uma audiência ampla. Queria que a razão – este privilégio único dos seres humanos – fosse exatamente isso, um privilégio de todos homens dotados de senso comum.
Trata-se de um manual da razão, um prático "modo de usar". Moderno, Descartes postulava a idéia de que a razão deveria permear todos os domínios da vida humana e que a apreciação racional era parâmetro para todas as coisas, numa atividade libertadora, voltada contra qualquer dogmatismo. Evidentemente, tal premissa revolucionária lhe causaria problemas, sobretudo no âmbito da igreja: em 1663, vários de seus livros foram colocados no Index. Razão alegada: a aplicação de exercícios metafísicos em assuntos religiosos. Discurso do método mostra por que Descartes – para quem "mente", "espírito", "alma" e "razão" significavam a mesma coisa – marcou indelevelmente a história do pensamento."

Sinopse da editora: L&PM POCKET: Porto Alegre, 2009.


Na acupuntura, muito falamos, inclusive eu, que o maneira atual de se fazer medicina é oriundo do método cartesiano, onde para entender um fato precisamos duvidar deste fato e não apenas crer que ele existe.
Descartes elaborou um pensamento para testar suas teorias sobre o funcionamento das coisas, que era dividido em quatro etapas:

"- o primeiro era o de nunca aceitar algo como verdadeiro que eu não conhecesse claramente como tal; ou seja, de evitar cuidadosamente a pressa e a prevenção, e de nada fazer constar de meus juízos que não se apresentasse tão clara e distintamente a meu espírito que eu não tivesse motivo algum de duvidar dele;

- o segundo, o de repartir cada uma das dificuldades que eu analisasse em tantas parcelas quantas fossem possíveis e necessárias a fim de melhor solucioná-las;

- o terceiro, o de conduzir por ordem meus pensamentos, iniciando pelos objetos mais simples e mais fáceis de conhecer, para elevar-me, pouco a pouco, como galgando degraus, até o conhecimento dos mais compostos, e presumindo até mesmo uma ordem entre os que não se precedem naturalmente uns aos outros;

- e o último, o de efetuar em toda parte relações metódicas tão completas e revisões tão
gerais nas quais eu tivesse a certeza de nada omitir."

O método acima foi sendo reproduzido pelos anos seguintes e idealizados em todo um sistema filosófico que nos foi trazido até hoje: a maneira de se fazer uma pesquisa científica onde dividimos tudo em partes e testamos cada uma destas partes para ver se ela influencia o todo; a produção em massa nas fábricas onde o operário se especializa por demais em uma única tarefa; a medicina ocidental que sofreu um reforma em 1910 para se adequar a este sistema, onde todo o individuo, o serviço de saúde e a própria profissão de médico é dividida em diversas especialidades.

Isto, sem dúvidas, trouxe avanças tecnológicos consideráveis, mas, infelizmente, perdemos a noção do todo, do conjunto e que hoje se faz necessário. Nós, na acupuntura, falamos muito em tratar a saúde de maneira holística, pois de certa forma, a acupuntura é exatamente isso: você não é dividido em joelho, olhos, coração, seja lá quantas partes forem necessárias, mas você é visto como um todo, onde qualquer sintoma tem interação com outro sintoma; e o tratamento também é global.

Descartes pregava este conhecimento global?

Bem, não dá para conhecer um autor ou sua obra com a leitura de apenas um livro, mas já neste livro fica clara a impressão que ele não estava contente com as informações que pessoas ou entidades lhe impunham como verdades, exatamente como as informações que passei acima nesta postagem com aqueles links.

Ele era uma pessoa extramente instruída para os padrões de sua época, frequentou as melhores escolas, convivia com doutos e mesmo assim tinha muitas desconfianças sobre todas estas verdades que lhe chegavam aos ouvidos.

Ele preferiu afastar-se das pessoas letradas, que tinham suas próprias verdades, e foi viajar (por nove anos) para conhecer outras verdades, que segundo ele, também eram igualmente válidas; e em seu retorno ele chegou a conclusão que ambas as verdades eram válidas, ... mas não para ele.

Para encurtar a história, ele preferiu desconsiderar tudo o que lhe falavam que era verdade e começou a analisar uma a uma, considerando apenas o que a sua razão lhe permitia aceitar como verdade. Partiu da premissa que o seu próprio pensamento era uma realidade para poder estar questionando tudo ("Penso, logo existo") e a partir daí ele criou um método próprio de análise de todas as verdades, que acabou por influenciar todas as gerações futuras.

Voltando aos exemplos lincados logo acima, seria muito interessante que nos apegássemos novamente às ideias de René Descartes, jogando fora toda a informação que nos chega via mídia informativa, pois elas parecem estar cheias de vieses; talvez devêssemos ser céticos sempre e analisar cada uma dessas informações sob o nosso próprio ponto de vista.

Talvez precisemos de alguém que jogue toda esse informação inútil fora e nos forneça um novo sistema de encarar a vida e de como analisar tudo, agora sob uma nova ótica.

Mas René Descartes não era totalmente cartesiano, e o pessoal da acupuntura pode ainda levar um pouquinho de fé nele, pois mesmo tendo criando um critério de análise das coisas, que fragmentava tudo, duvidava de tudo e depois testava tudo sob a ótica da razão, ainda assim, em outro livro - Principia Philosohia, 1644 - ele diria que "a visão forte ou clara se produz quando a coisa é vista numa grande luz; ela é fraca ou obscura quando a coisa é vista numa luz tênue, tal como no eclipse do sol ou ao luar" , que é uma típica visão holística das coisas, tal qual a acupuntura trabalha seus pacientes ou como um místico tibetano encara a vida.



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