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sábado, 2 de março de 2013

"História" ... para quê ?

Vamos fazer um simples exercício mental sobre a importância do Passado e da História.

Todos nós já ouvimos falar que estudar História é importante, pois assim aprendemos com os erros passados o que não devemos fazer no futuro, não é mesmo? mas a pergunta que sempre me faço é se isso realmente funciona? estamos corrigindo nossos erros? ou estamos constantemente reinventando novos métodos de errar novamente?

Vejamos um simples exemplo como o da Escravidão Humana.

Já existia à época das construções das pirâmides; existiu na Roma Antiga; foi de suma importância na expropriação das riquezas minerais das Américas à época das Grandes Navegações e dos Descobrimentos, e aqui - muito bem documentado - fica claro, que a tráfico negreiro foi acabando, não porque fomos nos tornando mais humanos e sensíveis, mas porque a industria mercantilista e manufatureira que surgia necessitava de mercado consumidor para os seus produtos.
Acabaram-se os escravos? claro que não! A indústria manufatureira, cada vez mais agressiva, agora se hospeda em um país que lhe estabelece garantias de lucros infindáveis, e suas sucursais multinacionais usurpam da riqueza e da mão de obra baratíssima em qualquer local do globo que lhe seja favorável; os povos e países pobres continuam sendo explorados em seus recursos naturais e em sua mão de obra extremamente barata, que beira à escravidão. Grandes empresas, com ar de respeitabilidade, continuam usando deste artíficio em outros países, que não a sua sede: a escravidão. Temos escravidão de mulheres para atuarem em prostíbulos, temos escravidão de crianças para pedofilia, temos escravidão de crianças e velhos para atuarem na em empresas de fundo de quintal, que fornecem serviço tercerizados para "empresas respeitáveis", temos as classes operárias subjugadas, que é a nova forma de escravidão moderna, e a lista não para de crescer.

Aprendemos alguma coisa com a História? NÃO.

As coisas acontecem do jeito que precisam acontecer e tudo o que importa é o AGORA.

As grandes corporações não estão nem aí para o passado, nem tão pouco a classe política, que apenas usam o passado para fazerem suas citações imponentes. 
George Orwell (pseudônimo), em seu livro, "1984", faz uma bela analogia com o que podemos fazer da história. Ele descreve ali uma possível sociedade, num possível futuro da Terra, onde o povo é manipulado em suas opiniões por um partido político. Um dos mecanismos desta manipulação é distorcer a história, pois todo o fato ocorrido no presente ou passado passa pelo crivo de uma máquina administrativa; se o fato é desfavorável aos interesses do grupo no poder, este fato é transformado em uma nova versão "agradável" antes de cair na distribuição pela mídia. Acontece que mesmo a mentira que se espalha e se repete inúmeras vezes, acaba por se tornar uma verdade quase que incontestável.

Ora, se trouxermos esta analogia para nosso mundo atual, veremos que algo parecido ocorre com a indústria de Hollywood. Cada vez vemos mais filmes, reportagens, documentários, todos saindo de um único ponto de vista, e falando sobre guerras, atentados, terrorismo, enfim..."história", em uma única versão dos fatos, e isso acaba sendo uma verdade. Hoje, eu, brasileiro, conheço mais sobre as figuras políticas dos Estados Unidos, do que as do Brasil; sei quem é Lincoln, JFK, Nixon, Truman, mas não sei quem é Getúlio, Jucelino, Rio Branco.

Amigos, a História está sendo mudada.
E isto importa? sim, se levarmos em conta o poder de uma nação, e de como ela manipula a informação para levar seus intentos adiante.

Mas o que aconteceu na história, realmente pode ter ficado para trás e em nada ter ajudado a construir o que somos hoje. O que somos hoje pode não ter nada a ver com o que fomos ontem. Quando eu nasci eu era uma pessoa, na minha adolescência eu fui outra pessoa, e de lá para cá, com agregações que fiz em meu intelecto e consciência, tornei-me novamente outra pessoa. Se não houvesse um quadro na minha parede me mostrando como eu era na infância, eu poderia até dizer que estou existindo a partir de hoje, e um fato assim é muito bem postulado por Julian Baggini (O Porco Filósofo) em seu 43º conto (Choque do Futuro) "http://books.google.com.br/books?id=h2PcKZmLxswC&pg=PA134&lpg=PA134&hl=pt-BR"

Se eu começar a pensar cientificamente, posso até tentar postular alguma coisa no sentido de que não existe nada atrás de mim, nem nada a minha frente, tudo o que existe é o agora. O fato de eu não aprender com meus erros passados pode implicar no fato simples de que passado, presente e futuro é fruto de uma única realidade, que existe apenas dentro da minha mente. Se sonho, por exemplo, este sonho fica guardado em engramas de memória em meu cérebro; e se algo acontece "realmente" comigo hoje, isto também fica guardado em engramas de memória no meu cérebro; e ambos os engramas me permitem recuperar a informação no dia seguinte. Sabe qual a diferença entre o engrama de memória de um fato real e a de um sonho? nenhuma diferença! são absolutamente iguais: fruto da nossa mente. Sabe quanto tempo "real" pode durar uma aventura completa e repleta de ação em meus sonhos? talvez 2 ou 3 minuntos... dependendo do tão casado eu esteja no momento. O cérebro não carrega essa noção de tempo, nem tão pouco a noção de presente, passado ou futuro, que é fruto apenas de nosso inconsciente coletivo, que é extremamente material, e precisa destas referências.

Até mesmo pesquisadores sérios da ciência têm se preocupado com o aspecto do tempo.

Hoje, sabe-se que nada pode se aproximar à velocidade da luz, porque a quantidade de energia teria que ser infinita para conseguir esta façanha; mas a teoria permite especular que existam partículas que vivem num mundo de hipervelocidade, superior a da luz, isto explicaria algumas experiências que já podem ser feitas hoje em dia com "spin" (uma das caracteristicas de particulas elementares, a rotação): se você girar uma partícula num sentido, no planeta Terra, o seu par complentar irá girar analogamente na direção contrária, não interessando o quão distante do planeta Terra essa particula esteja: é instantâneo, no mesmo tempo; isto implica em dizer, que esta particula não tem passado, pois neste mundo de altas velocidades, tudo ocorre no mesmo tempo: passado, presente e futuro. Há experimentos científicos, inclusive, que dizem que uma partícula, já prevê seu comportamento futuro, e toma uma decisão anterior, sobre qual ação seguir (testado dentro de ciclotrons), isto, claro, dá muitas expeculações, incluvisve aquelas que dizem respeito à cura quântica, que diz que a minha "intenção" é fundamental no processo de cura terapêutica: o que eu pensar agora, influi no que vai ocorrer depois.

"A MINHA REALIDADE FUTURA É CONSTRUIDA A PARTIR DO MEU QUERER PRESENTE".

Esqueça tudo o que eu escrevi acima, pois isso agora já é passado.

sábado, 19 de janeiro de 2013

Lincoln


          Infelizmente, MUITA gente acha que o cinema é realmente baseado em fatos reais, e então, a indústria de Hollywood continua fabricando seus heróis nacionais. Esquecemos, com frequencia, que os heróis são aqueles surgidos do povo, que normalmente lutam contra o "sistema"; os heróis normalmente morrem ou "são matados" e fazem parte dos "perdedores" nos livros de história. Um presidente nada mais é, na maioria das vezes, do que um representante da classe dominante.

LINCOLN... ainda bem que não "emplacou na galeria"; ...você vai comprar esta idéia do herói fabricado no "cinemark", de novo .. ???



Segue trecho de um livro do Eduardo Galeano, que em um breve resumo, expõe como a América Latina foi - e está sendo - drenada de seus recursos naturais, e de como sua mão de obra barata foi explorada - e ainda é -, e de como classes raciais ou segregadas foram exterminadas sem piedade, e de como  funciona a exploração do mundo dos mais fracos pelos mais fortes, sim, porque tudo se resume nisso. Nada mudou.


"OS FLIBUSTEIROS NA ABORDAGEM

Na concepção geopolítica do imperialismo, a América Central não é mais do que um apêndice natural dos Estados Unidos. Nem sequer Abraham Lincoln, que também pensou em anexar seus territórios, pôde escapar aos ditados do “destino manifesto” da grande potência sobre suas áreas contíguas.
Em meados do século passado, o flibusteiro William Walker, que operava em nome dos banqueiros Morgan e Garrison, invadiu a América Central à frente de uma quadrilha de assassinos, que se autodenominavam “a falange americana dos imortais”. Com o apoio oficioso do governo dos Estados Unidos, Walker roubou, matou, incendiou e se proclamou presidente, em expedições sucessivas, da Nicarágua, El Salvadore Honduras. Reimplantou a escravidão nos territórios que sofreram sua devastadora ocupação, continuando, assim, a obra filantrópica de seu país nos Estados do México que tinham sido ocupados, pouco antes.
Em seu regresso aos Estados Unidos; foi recebido como um herói nacional. Desde então sucederam-se as invasões, as intervenções, os bombardeios, os empréstimos obrigatórios e os tratados firmados ao pé do canhão. Em 1912, o presidente William H. Taft afirmava: “Não está longe o dia em que três bandeiras de listras e estrelas marcarão em três lugares eqüidistantes a extensão de nosso território: uma no Pólo Norte, outra no canal do Panamá e a terceira no Pólo Sul. Todo o hemisfério será nosso, de fato, como, em virtude de nossa superioridade racial, já é nosso moralmente”. Taft dizia que o reto caminho da justiça na política externa dos Estados Unidos “não exclui de modo algum uma ativa intervenção para assegurar a nossas mercadorias e a nossos capitalistas facilidades para as inversões lucrativas”. Nesta mesma época, o ex-presidente Teddy Roosevelt recordava em voz alta a brilhante amputação de terra à Colômbia: “I took the canal”, dizia o novo Prêmio Nobel da Paz, enquanto contava como tinha inventado o Panamá. A Colômbia recebera, pouco depois, uma indenização de US$25 milhões: era o preço de um país nascido para que os Estados Unidos dispusessem de uma via de comunicação entre ambos os oceanos.
As empresas apoderavam-se de terras, alfândegas, tesouros e governos; os marines desembarcavam por todas as partes para “proteger a vida e os interesses dos cidadãos norte-americanos”, álibi exato que utilizariam, em 1965, para apagar com água benta as marcas do crime da República Dominicana. A bandeira envolvia outras mercadorias. O comandante Smedley D. Butler, que encabeçou muitas das expedições, resumia assim sua própria atividade, em 1935, já aposentado: “Passei 33 anos e 4 meses no serviço ativo como membro da mais ágil força militar deste país: o Corpo de Infantaria da Marinha. Servi em todas as hierarquias, desde segundo tenente até general-de-divisão. E durante todo este período, passei a maior parte do tempo em funções de pistoleiro de primeira classe para os Grandes Negócios, para Wall Street e para os banqueiros. Em uma palavra, fui um pistoleiro do capitalismo... Assim, por exemplo, em 1914 ajudei a fazer com que o México, e em especial Tampico, se tornassem uma presa fácil para os interesses petrolíferos norte-americanos. Ajudei a fazer com que o Haiti e Cuba fossem lugares decentes para a cobrança de juros por parte do National City Bank... Em 1909-1912 ajudei a purificar a Nicarágua para a casa bancária internacional Brown Brothers. Em 1916, levei a luz à República Dominicana, em nome dos interesses açucareiros norte-americanos. Em 1903, ajudei a ‘pacificar’ Honduras em benefício das companhias frutíferas norte-americanas".

Nos primeiros anos do século, o filósofo William James tinha ditado uma sentença pouco conhecida: “O país vomitou de uma vez e para sempre a Declaração de Independência...” 

Para dar apenas um exemplo, os Estados Unidos ocuparam o Haiti durante vinte anos, e ali, nesse país negro que tinha sido o cenário da primeira revolta vitoriosa dos escravos, introduziram a segregação racial e o regime de trabalhos forçados, mataram mil e quinhentos operários em uma de suas operações de repressão (segundo a investigação do Senado norte-americano em 1922) e, quando o governo local se negou a converter o Banco Nacional numa sucursal do National City Bank de Nova Iorque, suspenderam o pagamento do presidente e de seus ministros, para que mudassem de opinião.

Histórias semelhantes se repetiam nas demais ilhas do Caribe e em toda a América Central, o espaço geopolítico do Mare Nostrum do Império, ao ritmo alternado do big stick ou da “diplomacia do dólar”.
O Corão menciona a bananeira entre as árvores do paraíso, mas a bananização da Guatemala, Honduras, Costa Rica, Panamá, Colômbia e Equador permite suspeitar que se trata de uma árvore do inferno. Na Colômbia, a United Fruit tinha-se tornado dona do maior latifúndio do país, quando explodiu, em 1928, uma grande greve na costa atlântica. Os trabalhadores nas plantações de bananas foram aniquilados a bala, em frente a uma estação ferroviária. Um decreto oficial fora ditado: “Os homens da força pública ficam livres para castigar pelas armas...” e depois não houve necessidade de baixar nenhum decreto para apagar a matança da memória oficial do país. Miguel Ángel Asturias narrou o processo da conquista e o saque da América Central.
O Papa Verde era Minor Keith, rei sem coroa da região inteira, pai da United Fruit, devorador de países: “Temos portos, ferrovias, terras, edifícios, mananciais - enumerava o presidente -; corre o dólar, fala-se o inglês e se hasteia nossa bandeira...” “Chicago não podia senão sentir orgulho deste filho que marchou com um par de pistolas e regressava para reclamar seu posto entre os imperadores da carne, reis das ferrovias, reis do cobre, reis do chiclete”. Em O paralelo 42, John dos Passos traçou a rutilante biografia de Keith, biografia da empresa: “Na Europa e Estados Unidos as pessoas começaram a comer bananas, assim que tombaram as selvas através da América Central para semear bananas e construir ferrovias para transportá-las, e cada ano mais vapores da Great White Fleet iam para o norte repletos de bananas; essa é a história do império norte-americano no Caribe e do canal de Panamá e do futuro canal de Nicarágua e os marines e os encouraçados e as baionetas...”
As terras ficavam tão exaustas quanto os trabalhadores; às terras roubavam o húmus e aos trabalhadores os pulmões, porém, sempre havia novas terras para explorar e mais trabalhadores para exterminar. Os ditadores, próceres de opereta, velavam pelo bem estar da United Fruit com o punhal entre os dentes. Depois, a produção de bananas foi decaindo e a onipotência da empresa de frutas sofreu várias crises; mas a América Central continua sendo, em nossos dias, um santuário do lucro para os aventureiros, embora o café, o algodão e o açúcar tenham derrubado os bananais de seu pedestal de privilégio. Todavia as bananas ainda são a principal fonte de divisas para Honduras e Panamá e, na América do Sul, foi até pouco tempo a do Equador. Por volta de 1930, a América Central exportava 38 milhões anuais de cachos e a United Fruit pagava a Honduras um centavo de imposto para cada cacho. Não havia e não há maneira de controlar o pagamento de mini-impostos (que depois subiu um pouquinho), porque a United Fruit exporta e importa o que desejar à tizargem das alfândegas estatais. A balança comercial e o balanço de pagamentos do país são obras de ficção, a cargo de técnicos de pródiga imaginação."

As Veias Abertas da América Latina. Eduardo Galeano